quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

um miniconto antigo que me inspira muito...

RECREIO DA ESCOLA

O recreio da escola era sempre curto, se visto de fora! Quantas coisas fazíamos naqueles 30 ou 40 minutos, quantas estórias... Antes de o sinal bater, aflição! O mágico toque despertava nossa alegria, estimulava nossa infantilidade e dava início a uma grande mágica coletiva. Meninos corriam de peito aberto chutando bolas, jogando gude e girando em piruetas desinibidas. Meninas se agrupavam em conversas empolgantes. O festival das merendeiras começava... suco de abacaxi que minha mãe mandou com pão com manteiga... pipoca gente, no lanche de hoje minha mãe mandou pipoca... salada de fruta é uma delícia... Ah como eu gostava dessa hora! . O escambo rolava solto, eu às vezes trocava algumas torradas por goles de suco dos colegas. A “pedição” também vinha junto. Os meninos que, não sei porque motivo, nunca levavam comida pra escola faziam caras de coitadinhos (os mais fraquinhos) para ganhar um pedaço ali um outro acolá. Os valentões conseguiam sempre se alimentar sem problemas. Depois que inventaram a cantina, ver merendeiras era algo difícil, elas já não tinham o mesmo status, não tinham mais aquele brilho. Os casaizinhos sumiam no recreio. Eu nunca soube para onde eles iam! A diretora às vezes circulava pelo pátio com seu olhar reprovador tentando manter a ordem. Vinha de lá o gordinho correndo feito louco esbaforido e ao ver a diretora, parou no ato, se ajeitou todo, fez cara de moleque-sapeca-que-está-escondendo-o-jogo e passou como quem não queria nada. Havia brigas também. Lembro de uma vez que o maior valentão do colégio apanhou de uns três meninos fraquinhos que se uniram em vingança. O meio do recreio trazia sempre uma sensação de que nunca ia acabar, sempre se podia correr mais um pouco, sempre se podia brincar. Seu finzinho provocava um friozinho na barriga e uma sensação de que não ia dar tempo para uma última corrida, fazer um último gol ou realizar uma última traquinagem. Moleques são sempre moleques, sempre atrás de bagunça, atrás de emoções, perseguindo aventuras. Lembro do doidinho da minha turma que certa vez subiu na caixa d’água da escola... a bixa parecia ser tão grande. Enfim, para tristeza dos alunos, o sinal tocava. E não vinha só, trazia consigo desespero. De um lado correria, de outro a sensação de que a alegria fora cortada no meio, deixando a idéia de que os bons gostinhos da vida nunca o são por inteiro.

fael du lobo - 19-06-08 Campos dos Goytacazes.

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