Cuidado!
Álvaro Moreyra, 1923
Oh! O meu pavor dos pessimistas! Eles são mais nefastos, fazem um mal muito maior do que o éter, a cocaína, a morfina, o ópio e outros venenos cenográficos perseguidos pela polícia.
Contra eles é que se devia abrir uma campanha sem pausa. Há milhares por aí, nas esquinas, nas livrarias, nos cafés, nos bondes, em toda parte. De olhar feroz, boca espichada, vão chamando e espalhando fluidos ruins pela cidade. Conheço de fama alguns. Muitos, de vista. E, infelizmente, um, de fama, de vista e de ouvido. Aparece, de quando em quando. Abre a porta, dá comigo, grita: “Ah!” No grito põe o espanto desapontado de me encontrar com saúde e contente. É incapaz de pronunciar: bom dia, ou boa tarde, ou boa noite. Firme no seu mau humor intransigente, se pudesse, cumprimentaria assim: “Horrível dia, horrível tarde, horrível noite”, como não pode, por um resto de pudor, resume tudo no “ah!” escandalizado. Depois, atira o corpo, como um suspiro, sobre a poltrona e começa... descompõe o mundo inteiro. Ameaça. Inventa. Calunia. E quando percebe que eu estou suficientemente sucumbido, sai, grande, profético, abracadabrante. O dinheiro que esse homem tem me obrigado a gastar em alfazema!...
RESENDE, Beatriz. Cocaína: literatura e outros companheiros de ilusão. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2006.
sexta-feira, 31 de dezembro de 2010
quarta-feira, 15 de dezembro de 2010
NOTAS SOBRE A PARCERIA
fael du lobo - 15 de dezembro de 2010
Sonha ela véus
Sonha ele e s t a b i l i d a d e!
Tenta ser sorridente
Tapa o sol com a peneira
Castiga o santo casamenteiro
Usa de garrafadas e
Poções misteriosas...
Você precisa casar!
Conselho fixo do tipo
Que pai diz
E que avô manda,
Fez, sem saber, por anos
Todos esses castelos!
Vê-se mundo mudando
Castelo de pedra
Castelo de areia
Desuniversalização de valores
Conselho que
Pai diz e que
Avô manda
Hoje cagam em cima!
E fico eu, liberto por ousados,
Atado de minhas parcerias...
Sonha ela véus
Sonha ele e s t a b i l i d a d e!
Tenta ser sorridente
Tapa o sol com a peneira
Castiga o santo casamenteiro
Usa de garrafadas e
Poções misteriosas...
Você precisa casar!
Conselho fixo do tipo
Que pai diz
E que avô manda,
Fez, sem saber, por anos
Todos esses castelos!
Vê-se mundo mudando
Castelo de pedra
Castelo de areia
Desuniversalização de valores
Conselho que
Pai diz e que
Avô manda
Hoje cagam em cima!
E fico eu, liberto por ousados,
Atado de minhas parcerias...
segunda-feira, 13 de dezembro de 2010
poemas da série "ébrios"
AMIGAS
fael du lobo - 10 de dezembro de 2010.
Brilho,
Estribilho,
Luz!
Sorriso, flash!
Sorriso, foto!
Gargalhei...
Arruma vestido,
Segura saia,
Retoca batom...
Ei amiga!
(tempo... tempo... tempo...)
Você tá linda!!!
(andamos juntas)
Me apresenta ele?
(tempo...)
Sucesso,
Amei!!!
fael du lobo - 10 de dezembro de 2010.
Brilho,
Estribilho,
Luz!
Sorriso, flash!
Sorriso, foto!
Gargalhei...
Arruma vestido,
Segura saia,
Retoca batom...
Ei amiga!
(tempo... tempo... tempo...)
Você tá linda!!!
(andamos juntas)
Me apresenta ele?
(tempo...)
Sucesso,
Amei!!!
terça-feira, 7 de dezembro de 2010
EUFORIA RASTA
Estou lendo a biografia do grande Bob Marley (Catch a Fire - Timothy White) e entre inspirações e sonhos escrevi essa poesia...
EUFORIA RASTA
fael du lobo - 7 de dezembro de 2010
Num descanso compromissado leve e levado a sério
Em brisas verdes, círculos circunscritos de meditação,
Eu jah sonhava rastas e suas maneiras de paz...
E sem preconceitos!
No auge, proporia obeah sem algo algum de maldade
Filosofando aos spliffs de ganja
Sem ao menos trajar dreads,
Mas com uma insofismável sede de justiça!
Bobmarlicamente falando - soltando fumaça entre palavras -
Berraria discursos tramando atos de revanche futura, revanche conjunta!
De mãos dadas ao som de so mucht trouble in the word, marcharia perto...
E o tom melódico de nossos contatos produziria enlaces,
Vida e afeto perante os esquecidos, transformação...
E nessa vibração, nessa energia humana conjunta,
Levaria minha vida na calma enérgica de um bom reggae...
EUFORIA RASTA
fael du lobo - 7 de dezembro de 2010
Num descanso compromissado leve e levado a sério
Em brisas verdes, círculos circunscritos de meditação,
Eu jah sonhava rastas e suas maneiras de paz...
E sem preconceitos!
No auge, proporia obeah sem algo algum de maldade
Filosofando aos spliffs de ganja
Sem ao menos trajar dreads,
Mas com uma insofismável sede de justiça!
Bobmarlicamente falando - soltando fumaça entre palavras -
Berraria discursos tramando atos de revanche futura, revanche conjunta!
De mãos dadas ao som de so mucht trouble in the word, marcharia perto...
E o tom melódico de nossos contatos produziria enlaces,
Vida e afeto perante os esquecidos, transformação...
E nessa vibração, nessa energia humana conjunta,
Levaria minha vida na calma enérgica de um bom reggae...
quinta-feira, 2 de dezembro de 2010
um miniconto antigo que me inspira muito...
RECREIO DA ESCOLA
O recreio da escola era sempre curto, se visto de fora! Quantas coisas fazíamos naqueles 30 ou 40 minutos, quantas estórias... Antes de o sinal bater, aflição! O mágico toque despertava nossa alegria, estimulava nossa infantilidade e dava início a uma grande mágica coletiva. Meninos corriam de peito aberto chutando bolas, jogando gude e girando em piruetas desinibidas. Meninas se agrupavam em conversas empolgantes. O festival das merendeiras começava... suco de abacaxi que minha mãe mandou com pão com manteiga... pipoca gente, no lanche de hoje minha mãe mandou pipoca... salada de fruta é uma delícia... Ah como eu gostava dessa hora! . O escambo rolava solto, eu às vezes trocava algumas torradas por goles de suco dos colegas. A “pedição” também vinha junto. Os meninos que, não sei porque motivo, nunca levavam comida pra escola faziam caras de coitadinhos (os mais fraquinhos) para ganhar um pedaço ali um outro acolá. Os valentões conseguiam sempre se alimentar sem problemas. Depois que inventaram a cantina, ver merendeiras era algo difícil, elas já não tinham o mesmo status, não tinham mais aquele brilho. Os casaizinhos sumiam no recreio. Eu nunca soube para onde eles iam! A diretora às vezes circulava pelo pátio com seu olhar reprovador tentando manter a ordem. Vinha de lá o gordinho correndo feito louco esbaforido e ao ver a diretora, parou no ato, se ajeitou todo, fez cara de moleque-sapeca-que-está-escondendo-o-jogo e passou como quem não queria nada. Havia brigas também. Lembro de uma vez que o maior valentão do colégio apanhou de uns três meninos fraquinhos que se uniram em vingança. O meio do recreio trazia sempre uma sensação de que nunca ia acabar, sempre se podia correr mais um pouco, sempre se podia brincar. Seu finzinho provocava um friozinho na barriga e uma sensação de que não ia dar tempo para uma última corrida, fazer um último gol ou realizar uma última traquinagem. Moleques são sempre moleques, sempre atrás de bagunça, atrás de emoções, perseguindo aventuras. Lembro do doidinho da minha turma que certa vez subiu na caixa d’água da escola... a bixa parecia ser tão grande. Enfim, para tristeza dos alunos, o sinal tocava. E não vinha só, trazia consigo desespero. De um lado correria, de outro a sensação de que a alegria fora cortada no meio, deixando a idéia de que os bons gostinhos da vida nunca o são por inteiro.
fael du lobo - 19-06-08 Campos dos Goytacazes.
O recreio da escola era sempre curto, se visto de fora! Quantas coisas fazíamos naqueles 30 ou 40 minutos, quantas estórias... Antes de o sinal bater, aflição! O mágico toque despertava nossa alegria, estimulava nossa infantilidade e dava início a uma grande mágica coletiva. Meninos corriam de peito aberto chutando bolas, jogando gude e girando em piruetas desinibidas. Meninas se agrupavam em conversas empolgantes. O festival das merendeiras começava... suco de abacaxi que minha mãe mandou com pão com manteiga... pipoca gente, no lanche de hoje minha mãe mandou pipoca... salada de fruta é uma delícia... Ah como eu gostava dessa hora! . O escambo rolava solto, eu às vezes trocava algumas torradas por goles de suco dos colegas. A “pedição” também vinha junto. Os meninos que, não sei porque motivo, nunca levavam comida pra escola faziam caras de coitadinhos (os mais fraquinhos) para ganhar um pedaço ali um outro acolá. Os valentões conseguiam sempre se alimentar sem problemas. Depois que inventaram a cantina, ver merendeiras era algo difícil, elas já não tinham o mesmo status, não tinham mais aquele brilho. Os casaizinhos sumiam no recreio. Eu nunca soube para onde eles iam! A diretora às vezes circulava pelo pátio com seu olhar reprovador tentando manter a ordem. Vinha de lá o gordinho correndo feito louco esbaforido e ao ver a diretora, parou no ato, se ajeitou todo, fez cara de moleque-sapeca-que-está-escondendo-o-jogo e passou como quem não queria nada. Havia brigas também. Lembro de uma vez que o maior valentão do colégio apanhou de uns três meninos fraquinhos que se uniram em vingança. O meio do recreio trazia sempre uma sensação de que nunca ia acabar, sempre se podia correr mais um pouco, sempre se podia brincar. Seu finzinho provocava um friozinho na barriga e uma sensação de que não ia dar tempo para uma última corrida, fazer um último gol ou realizar uma última traquinagem. Moleques são sempre moleques, sempre atrás de bagunça, atrás de emoções, perseguindo aventuras. Lembro do doidinho da minha turma que certa vez subiu na caixa d’água da escola... a bixa parecia ser tão grande. Enfim, para tristeza dos alunos, o sinal tocava. E não vinha só, trazia consigo desespero. De um lado correria, de outro a sensação de que a alegria fora cortada no meio, deixando a idéia de que os bons gostinhos da vida nunca o são por inteiro.
fael du lobo - 19-06-08 Campos dos Goytacazes.
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